Objetos animados

A gente vive cercado desses gadgets interativos: celulares, computadores, smart coisas… coisas que controlam coisas à distância. E faz um tempo que eu me perguntei se ainda havia espaço para brincar com  coisas que se mexem sem explicação aparente. Para objetos que se comportam de maneiras inusitadas.

Eu aprendi com um mágico essa coisa de você conduzir a atenção do espectador para uma sequência, de tal maneira que ele ache que entendeu como a coisa foi feita. E então, você surpreende ele. E rompe com o esquema mental. A gente sabe que aquilo tudo é truque. Que tem um jeito secreto de o mágico fazer aquilo tudo acontecer na sua frente. Mas mesmo assim, é legal demais!

Daí eu comecei a pensar no padrão que emerge desses objetos que a gente já entende como interativos e smart. E uma coisa eu percebi: todos eles são baseados em telas, imagens, luzes e sons vindos de alto-falantes… Pouca coisa funciona mecanicamente. Se você criar uma cadeira, acionada por bluetooth, que desmonte completamente quando você acionar um botão X, as pessoas vão ver o evento e achar que a cadeira quebrou de verdade.

Estou fazendo esse experimento com um telefone de discar antigo, da Ericsson. Eu desmontei a parte eletrônica do bicho e substitui por um Arduino Nano, com uma plaquinha de MP3 ligada no fone. Montei um pequeno Servo Motor com uma haste metálica para acionar a campainha mecanicamente. Você ouve o som da campainha do mesmo jeito que sempre espera ouvir. Ouve o som de ocupado quando liga para o número errado e o tom de discagem quanto tira o telefone do gancho. Se discar o número correto, ouve uma mensagem que corresponda a alguma pista do jogo ou até pode servir para abrir uma porta ou qualquer outra coisa…

Fiz uma adaptação no plug do telefone de um jeito que você pode esconder a fonte de alimentação numa tomada telefônica convencional.

Então quando você tira o telefone do gancho, ele dá sinal de linha. Nada nele indica que foi preparado. Que não está ligado a uma linha telefônica convencional. Tudo isso para manter o sujeito alinhado com a brincadeira.

“Lógico que deve ter um truque aí “. Tem sim. E você sabe disso. Tem até algumas hipóteses sobre como a coisa funciona. Mas quando a gente te passa a perna, você adora.

Basicamente essa é a minha pesquisa agora, com essa coisa de manipular objetos eletronicamente para gerar esses efeitos cênicos. E pode ser qualquer objeto e qualquer efeito.

Existe um mercado imenso desses objetos preparados provenientes da China. Mas a principal característica deles é aquela de sempre: objetos massificados, mal trabalhados e com uma arte horrorosa. Bonitinho você ver um rádio que parece vintage, de madeira, com dial e etc. Mas quando você chega perto e vê que é de plástico ruim, quebra a fantasia. Melhor pedir para alguém fazer um de madeira mesmo. E você prepara o bicho para ficar igualzinho àquele rádio de 1960, só que funcionando como um alto-falante bluetooth que você controla à distância. Ou ainda, pegar aquele rádio antigo garimpado num brechó e fazer ele virar um sistema desses.

Eu estou brincando bastante com isso agora.