A moeda linda do reconhecimento

Qualquer trabalho do mundo depende de reconhecimento. Qualquer um.

Mas o trabalho da gente, que vive da arte, depende MUITO de reconhecimento. Porque às vezes, nem grana tem.
Só que aí alguém vê o que você fez, reconhece ali o seu pensamento, seu esforço, seus afetos e te compartilha uma opinião sobre como aquilo o afetou… E isso te alimenta muito (ainda que a bolacha das crianças não esteja garantida).

Mas o dinheiro aparece, de algum jeito. E os trabalhos também.

Eu comecei a trabalhar com a Sônia Kavantan porque a Laís Marques e o André Santos disseram pra ela que eu era um camarada bom pra pensar cenários fáceis de transportar, de desmontar. Falaram que eu era o cara das engenhocas e tudo isso. E graças a Deus ela acreditou neles e me convidou para fazer a cenografia de “Um presente para Ramiro”, que eu entreguei em 2017.

No ano seguinte, eu estava com os meninos no SESC 23 de Maio e a Sônia me ligou pra me consultar pra um trabalho. O cenário do Ramiro eu fiz num tempo insano e daí eu achei que era outro trampo desse naipe. Fiquei preocupado. Quem me conhece sabe que eu não gosto de trabalhar apressado… Era não. Era pra atuar.

Eu tinha parado de atuar. Nem tava pensando nisso. Mas aí ela me falou que quem tinha me indicado era o Leonardo Cortez. E o Léo é mestre em me tirar do castigo. E então ficamos eu e o mesmo André Santos fazendo “Quem Prospera Sempre Alcança”. Um projeto divertidíssimo de fazer, patrocinado pela Visa através da Lei Federal de Incentivo à Cultura durante os anos de 2019, 2020 e também 2021… que só não conseguimos efetivar ainda por todo atropelo calculado desse des-governo no que tange à gestão cultural. Mas seguimos…

Enquanto a gente foi honrando os compromissos com “Quem Prospera”, eu fui aumentando os meus trabalhos na manutenção e criação de puzzles para Escape Room. Coisa que eu acabei descobrindo porque um dia eu fiz um workshop com o Henrique Sitchin, da Cia Truks de Teatro de Animação, e que também é o proprietário do Escape Junior. A nossa parceria já vem de longa data e eu tenho feito manutenções e criações de vários dos puzzles das suas salas. Também tenho a satisfação de já ter trabalhado em parceria com o Fábio, o Rafael e o Eloy, do Fugativa (que é o meu escape pra adulto favorito).

A Julia Lopez tinha trabalhado com o Maicon numas cenografias muito loucas. E um dia ela perguntou pra ele se ele conhecia alguém que manjasse de Arduino. O Maicon me apresentou pra ela e depois pro Marcelo (que é o pai dela, mas é segredo) e a gente fez um monte de coisas legais, inspiradas em Escape Room para SCANIA, SABESP e AIG. Por causa da Ju, eu conheci o Henrique Sonego, da Lasercut, que é a pessoa que resolve todas as minhas coisas em corte laser.

O Tiago Barizon, que é nosso produtor na Kavantan, é casado com a Isadora Petrin. Que é atriz no “Ramiro”. Numa conversa de boteco a gente descobriu que a gente gostava de “Escape Room”. E aí eu contei que fazia os puzzles. A Isa me indicou pra umas coisas no Escape Hotel. E depois me convidou pra fazer o cenário de uma peça de terror pra crianças que ela e o Conrado Sardinha tinham pensado em fazer numa conversa que eles tiveram na van do Seu Zé Felisberto, voltando de uma apresentação do “Ramiro”. Com certeza que eles iam chamar o “Dedeco” (André Santos).

A Isa escreveu o argumento do projeto e mostrou pra Sônia. A Sônia sugeriu o Léo pra escrever. O Léo teve uma idéia de uma peça que tinha um velho recluso que tinha que ser eu. E aí eu fui fazendo a “Casa Estranha” como ator e cenógrafo porque essa gente toda reconheceu o meu trabalho.

A Paula Picarelli e a Carol Catelan são amigas desde a USP. Eu fiquei muito próximo da Paulinha um tempo, porque a gente tinha um núcleo de pesquisa com o Janô (que eu amo) e se via praticamente toda semana na casa dela e do Fernando. Eles me perguntaram se eu conhecia o marido da Carol. Eu disse que não. Eles falaram: “Vocês precisam se conhecer. Vocês são muito parecidos com essas idéias de engenhocas.”

Eu fui tendo filhos e não consegui conhecer o Ronaldo antes do terceiro.

Foi quando a Carol leu o livro da Clau e a gente combinou de ser ver. Nesse meio caminho eu fui fazer o curso da Quito, lá no antigo espaço do Diogo Granato que me disse a mesma coisa. Caceta!

Daí, quando eu conheci o Rona… sem chance! Parceiro pra toda vida. Ele e o Daniel Laino e depois o Renê. São os caras com quem eu converso, explico as minhas pirações, e os caras vão lá, sugerem melhorias, e daqui a pouco a parada sai cortada e colada. Cê é louco!

Entre um parágrafo e outro dessa postagem, os anos passaram, o dinheiro entrou e saiu pra todos nós. Mas a confiança e o carinho por essa gente só aumenta.

Muito obrigado, querid@s.